Título Oiriginal: La Plaisanterie Editora: Selo Companhia de Bolso Páginas: 350 Gênero: Romance Ano: 2012 (primeira publicação: 1967) ISBN: 978.85.35.92117.5 Minha Nota:





Ludvik decide voltar à Morávia, sua cidade natal e onde viveu grande parte de sua juventude. Durante esse breve retorno ele vai se redescobrir e, de certa forma, fazer as pazes com o seu passado, com o seu "eu" antigo e com toda a sua história, drasticamente mudada pelo destino quando ele ainda era um estudante universitário. Na realidade, o livro conta a história de vida do protagonista: as reviravoltas de seu destino, atitudes impensadas que o levaram aonde está, suas complexidades, amores, medos e angústias. A narrativa se dá em primeira pessoa e o livro é dividido em sete partes, em que a narrativa se alterna entre quatro personagens importantes; Ludvik conta a maior parte delas. O recurso de narrativas a partir de pontos de vistas diferentes utilizado por Kundera foi essencial para que houvesse uma compreensão real de Ludvik, o que não seria possível se o livro fosse todo contado pelo próprio personagem.
O protagonista era um jovem estudante engajado na política, afiliado ao Partido Comunista e um tanto excêntrico. Adorava estudar e idolatrava o Partido. Mas seus colegas o consideravam um tanto individualista e irônico; diziam que Ludvik usava, para cada situação, uma máscara diferente. Ele mesmo começa a concordar com tal pensamento. No entanto, tudo caminhava relativamente bem, quando uma simples brincadeira de sua parte foi o suficiente para mudar todo o curso de sua história. Querendo caçoar da namorada Marketa, a qual nunca entendia brincadeiras e piadas, ele lhe escreveu um bilhete que dizia "O otimismo é o ópio do gênero humano! O espírito sadio fede a imbecilidade! Viva Trótski!". Obviamente seus colegas da universidade e do Partido não compreenderam a brincadeira e Ludvik se viu afastado de seu cargo e de seus estudos, acusado de ser um verdadeiro traidor, indo contra toda a ideologia do Partido Comunista; e mais: teve de ficar tempos no exército para onde iam os "traidores" e não entusiastas do Comunismo.
E é aí que Ludvik se torna um homem amargo e rancoroso, incapaz de entender que o que ele fez nunca poderia ter sido interpretado como uma simples brincadeira, dada a situação e o contexto. Mas é aí também que ele encontra um amor e vive todas as suas alegrias e tristezas. Todo o enredo do livro nos mostra como a sede por vingar-se daqueles que o expulsaram do Partido foi a responsável por determinar todo o rumo de sua vida e como os fantasmas do passado, se não compreendidos, podem se transformar em verdadeiros obstáculos na vida presente. Desse modo, trata-se de uma leitura bastante reflexiva, com uma análise profunda sobre a nostalgia - principalmente do que não aconteceu - e sobre a relação passado-presente, em que acompanhamos um Ludvik já adulto relembrando os fantasmas de seu passado e tentando um acerto de contas com eles, tentando se compreender, para que finalmente pudesse viver em paz consigo mesmo e com o Universo, aceitar o destino de sua vida e aprender a ser feliz com isso.
A primeira vez em que ouvi falar de Milan Kundera foi no início desse ano, quando meu professor de Teoria da Comunicação nos comunicou de que a avaliação semestral teria como tema o livro A Brincadeira, desse mesmo autor. Eu não sabia bem o que esperar da leitura; nunca havia ouvido falar naqueles nomes e também nunca havia lido nada do Leste Europeu. Bom, eu adoreeeei a leitura! Adorei a narrativa, adorei o enredo, adorei as mensagens reflexivas que o livro passa (pra variar!), adorei as personagens tão bem construídas e tão psicologicamente bem exploradas... Fiz um mooooonte de marcações com post-its, não só de passagens bonitas, mas também de tudo o que tinha a ver com a matéria estudada durante o semestre (e não foi pouca coisa, não!). Essa leitura é, em si só, uma verdadeira bagagem cultural, na medida em que se trata também de uma obra que aborda, em grande parte, a cultura popular tcheca (o que, confesso, pode ser bastante cansativo em alguns pontos). E, não podia deixar de dizer, eu AMO as edições da Companhia de Bolso! Que coisinhas mais lindas e delicadas e muito amor esses livros, gente! Sou simplesmente apaixonada pelo projeto gráfico deles, principalmente, pelo tamanho de bolso ideal.
"Nós vivíamos, Lucie e eu, num mundo devastado; e porque não soubemos nos apiedar dele, dele nos desviamos, agravando assim a sua infelicidade e a nossa. Lucie, tão amada, tão mal-amada, foi isso que você veio me dizer no fim desses anos? Pleitear a compaixão por um mundo devastado?"
Sobre o autor: "Milan Kundera é um dos maiores escritores do pós-guerra. Nascido em Brno, na região da Morávia, antiga Tchecoslováquia (hoje República Tcheca), ele conquistou fama internacional com o romance "A Brincadeira" (1967), que lhe rendeu a proibição de publicar em seu país e a perda da nacionalidade. Seus romances geralmente tratam de escolhas e decepções. Em seus livros é recorrente a crítica ao regime comunista e à ocupação russa de seu país em 1968. Em 1970, o escritor publicou o romance "Risíveis Amores". Refugiou-se em Paris em 1975, onde lecionou a disciplina arte do romance na École des Hautes Études en Sciences Sociales. A partir de 1980, quando se naturalizou francês, passou a se dedicar à tradução para o francês de seus textos anteriores, escritos originalmente em tcheco. Com "A Insustentável Leveza do Ser" (1984, adaptado para o cinema em 1987), tornou-se conhecido mundialmente. Em 1987, recebeu o Prêmio Nacional das Letras da Áustria. Outras obras importantes do autor são "O Livro do Riso e do Esquecimento", "A Valsa do Adeus", "A Imortalidade", "A Lentidão", "A Vida Não É Aqui" e "A Cortina"."
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Beijos com carinho! ♥
Posso te dizer que, excluindo dois livros de ensaios dificeis de encontrar e o último editado em 2015, já li tudo dele.
ResponderExcluirGostei bastante de ler a tua resenha e espero que leias o resto do livros do Kundera, não te vais arrepender, lê-os por ordem de edição original é sempre melhor. Claro que fico na espectativa de resenhas de todos eles ;)
Resenha MARAVILHOSA, muitíssimo bem escrita e foi à altura de Kundera. Parabéns!
ResponderExcluirBeijos
Ruh Dias
perplexidadesilencio.blogspot.com